Das autárquicas ao trabalho local, construir raízes no território

Desde a sua formação, o Bloco representou uma lufada de ar fresco na esquerda portuguesa, transportando consigo a esperança da construção de uma esquerda anti-capitalista combativa e plural.

Foi crescendo de eleição em eleição, atingindo rapidamente resultados que sinalizavam uma influência eleitoral de massas. Infelizmente, estes resultados não tiveram correspondência a nível organizativo e de inserção social.

Este facto é o que verdadeiramente explica que o Bloco nunca tivesse obtido em eleições autárquicas resultados semelhantes aos obtidos em eleições nacionais.

26 anos depois, uma geração inteira depois, é tempo de deixar de justificar maus resultados com a “experiência” de muitos anos dos outros partidos.

Esta é uma discussão recorrente em anos de eleições autárquicas que falha em olhar para a raiz do problema: a redução do trabalho local ao trabalho autárquico.

Queixam-se os eleitos de falta de apoio das concelhias, queixam-se os militantes de ignorância do que se passa e do que fazemos nas instituições de poder local.

Evidentemente que nem as concelhias podem deixar isolados os seus eleitos, nem estes podem deixar de prestar contas aos seus eleitores a começar naturalmente pelos seus camaradas de partido.

MAS O QUE FAZ FALTA É INVERTER ESTA LÓGICA!

Reduzir o trabalho local ao trabalho autárquico significa condenar os eleitos a defender quixotescamente posições de princípio contra governações locais neo-liberais de maiorias absolutas naturais ou construídas para o efeito. Com a particularidade de cá fora ninguém saber que o andamos a fazer.

Hoje, mais do que nunca, face ao crescimento da extrema-direita (nas suas diversas variantes) é necessário encontrar ou criar os locais de resistência e partilha nas cidades: nos movimentos sociais, nas comissões de moradores, nas comissões de utentes, nas associações culturais, nos grupos de intervenção cívica, nos grupos de teatro e animação cultural, nos clubes de bairro, etc. Numa sociedade atomizada, em que a interação por meios digitais exponencia o isolamento e funciona como combustível para a extrema-direita, é necessário assumir a tarefa exigente de criar rede. É preciso construir comunidade com tudo aquilo que sejam as forças vivas dos territórios.

A nossa presença nesses lugares é o garante do reconhecimento público e alimentará a intervenção dos nossos eleitos, que necessariamente terão de ser porta-vozes das preocupações, reivindicações e exigências da cidadania ativa da cidade e demais territórios.

O programa que defendemos ao nível autárquico resultará necessariamente deste enraizamento. Nem um programa que seja apenas “fazer melhor” nem um horizonte abstrato de superação do capitalismo, mas sim um programa que se baseie nas necessidades e desejos das populações para as radicalizar e, a partir delas, oferecer linhas de rutura com o mundo em que vivemos.

Salvo raras exceções, estamos longe disto no nosso trabalho local e autárquico.

Ontem já era tarde para começarmos. Vamos a isso?

Fevereiro de 2025

Subscrevem:

Alexandre Cunha, 9201, Leiria

António Eduardo Pereira, 287, Lisboa

António Santos, 1108, Amadora/Lisboa

Carlos Carujo, 101, Vila Franca de Xira/Lisboa

João Patrocínio, 13408, Vila Franca de Xira/Lisboa

José Dias, 7667, Évora

José Guerra, 1032, Sesimbra/Setúbal

Luís Miguel Santos, 8954, Odivelas/Lisboa

Miguel Barrantes, 11466, Lisboa

Samuel Cardoso, 9828, Lisboa

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