Lisboa: Diluir uma candidatura do Bloco numa candidatura dominada pelo PS é contrário do que é preciso

Intervenção feita na V Conferência do Bloco, Porto, 26.10.2024

Por Samuel Cardoso

A reflexão estratégica que aqui dizemos ser importante fazer dificilmente pode fugir, a meu ver, de concordarmos que:

  • É preciso uma militância de alta intensidade, com liberdade de decidir, um partido construído de baixo para cima: travar saídas, recuperar quem saiu, ir a outros bairros, criar base em vez de continuarmos por exemplo a insistir em fazer comícios de verão para as pessoas com quem já falamos.
  • É preciso um programa de transição para o socialismo.
  • É preciso mais debate, formação política e clarificação ideológica sobre o que é o socialismo hoje.
  • É preciso deixar de ter medo de ser marcadamente anti-capitalista: não ter medo de ser radical, de exigir a socialização da economia, de fazer campanhas de fundo anti-capitalistas.

E é por isso que a política local e autárquica tem de ser o ensaio de outra forma de viver em comum, tem de provar que há alternativa, tem de ser radical. É preciso não propor apenas uma “melhor gestão”, mas sim uma política diferente, de rutura, que abra outras opções. O maior erro do Bloco foi achar que moderando-se teria a maioria consigo. Mas não: é afirmando uma alternativa, e a extrema-direita sabe e faz isto.

Por estas razões, o Bloco deve apresentar candidaturas alternativas em todo o território. Nos casos em que esse programa seja compaginável, pode fazê-lo em aliança com movimentos, independentes e partidos à esquerda do PS. Abrir uma exceção em Lisboa não faz sentido.

Daí que assine com outras e outros camaradas uma proposta de alteração ao ponto 7.4 do texto proposto pela Comissão Política, que visa rejeitar a exceção lisboeta.

O texto da Comissão Política foi alterado, um pouco “aligeirado”, sendo que não devia ser alterado antes da discussão aqui e da troca de argumentos, a bem da democracia interna. Senão, estamos a fazer uma proposta face a um texto mudado. Mas, para lá desta questão de método democrático, a substância mantém-se: o espaço para a exceção lisboeta mantém-se na nova versão, como se Lisboa fosse um mundo à parte.

Diluir uma candidatura do Bloco numa candidatura que será dominada pelo PS é contrário ao que é preciso. Essa opção:

  • Não traz destaque a uma política alternativa: o PS nunca aceitará uma rutura com os interesses imobiliários e da restante burguesia, sobretudo sendo o maior partido de uma coligação. Foi com o PS no poder que começou e prosperou a gentrificação.
  • Cola o Bloco ao PS em toda a Área Metropolitana de Lisboa e no país, pelo centralismo mediático que Lisboa tem, ao mesmo tempo que o PS viabiliza os OEs da direita que queremos combater
  • Esta opção falha em toda a linha
    • Como somos o partido da cidade invisível se estivermos numa candidatura de mão dada com o centrão?
    • Como somos o partido dos bairros, em Lisboa, na Área Metropolitana de Lisboa, no país, como somos o partido daqueles que choram o seu vizinho Odair Moniz, como se torna verdade aquilo que o Chega diz de que “aqueles são os bairros do Bloco”?

É com uma alternativa socialista, não é de mão dada com Medina ou com um equivalente funcional, que vamos construir alternativa, coletivo, massa crítica e base social.

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